domingo, 28 de dezembro de 2008

BÚSSULA NATURAL DAS AVES ESTÁ NOS OLHOS


É improvável que uma pessoa descubra para que lado fica o norte apenas olhando ao seu redor, mas um grupo de bioquímicos acaba de mostrar que aves migratórias provavelmente possuem essa habilidade. Já se sabia, na verdade, que algumas delas conseguem distinguir os pontos cardeais, mas ninguém sabe bem explicar como elas fazem isso. Um experimento de britânicos e americanos mostrou agora que é bem possível que o segredo esteja nos olhos.
O que os cientistas fizeram, na verdade, foi
construir uma "bússola química", uma molécula cujas propriedades se alteram quando é submetida ao campo magnético da Terra. Em estudo na edição da revista "Nature", eles descrevem, pela primeira vez, como uma estrutura orgânica tão pequena pode funcionar.
A nova molécula sintética é parecida com a clorofila, que absorve a luz para gerar a energia química das plantas, mas tem mais uma propriedade: a intensidade da energia que ela gera muda quando ela está alinhada com um campo magnético, como o da Terra.
Essa possibilidade já havia sido teorizada, mas ninguém punha muita fé que uma molécula orgânica pudesse responder ao magnetismo terrestre, que é bem mais fraco do que o de um ímã de geladeira. Os pesquisadores mostraram que, na nova "bússola química", quando uma quantidade de luz é absorvida, um elétron migra de uma ponta para a outra e depois volta, gerando uma tênue corrente elétrica.
"No olho de um pássaro, onde é possível que isso ocorra, um material de coleta [de luz] diferente provavelmente faz isso, mas não se sabe ainda exatamente qual", disse o bioquímico Devens Gust, da Universidade do Estado do Arizona, um dos autores do estudo. "Há evidências de que um material chamado criptocromo, um pigmento protéico achado tipicamente nos olhos de aves, possa fazer o mesmo tipo de transferência de elétrons da nossa molécula."
Se conectada a um neurônio, uma bússola química poderia repassar sua informação diretamente para o cérebro.
O trabalho de Gust e de seus colegas deu força à teoria que estava perdendo espaço para uma outra hipótese --a de que o bico das aves possui partículas magnéticas que servem como pequenas bússolas tradicionais. "Mas pode ser que os pássaros usem ambos os mecanismos", diz Gust.
O estudo, publicado na revista "Nature", deve gerar um interesse pelo criptocromo. Se não for ele quem representa a "bússola química" nos animais, os biólogos devem então começar a procurar a molécula certa. O grupo de Gust diz que tentará criar uma molécula com aparência menos sintética, mais parecida com aquilo que efetivamente deve ser a rosa-dos-ventos das aves migratórias.

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